A Páscoa e a Figura do Cordeiro

A Páscoa e a Figura do Cordeiro

23 de Março, 2021 10 Por Getúlio Cidade

Estamos nos aproximando de mais uma Festa do Senhor, a Páscoa (Pesach) que ocorre em um período de oito dias, de 15 a 22 do mês de Nisan. Neste ano de 2021, as datas correspondentes no nosso calendário serão entre os dias 28/3 a 4/4. A figura central desta celebração do Senhor é, sem dúvida, o cordeiro pascoal que, como se sabe, é um tipo do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29): Yeshua, o próprio Filho de Deus sacrificado pela humanidade.

A Páscoa foi estabelecida por Deus imediatamente antes da saída do povo de Israel do Egito e, por essa razão, o mês de Nisan (que equivale a março/abril do calendário gregoriano) é conhecido como o “tempo de nossa redenção”. O dia anterior ao início da Festa é 14 de Nisan, conhecido como Dia da Preparação. Era nesse dia que o cordeiro pascoal era imolado à tarde por cada família. Na verdade, a semana que antecede a Páscoa é conhecida como a semana de preparação, pois como era uma Festa longa, várias providências deveriam ser tomadas como a meticulosa retirada do fermento de cada casa (um símbolo do pecado). Nos oito dias de festa, o povo só podia se alimentar de pães asmos (sem fermento). No dia 10 de Nisan, cada família deveria tomar um cordeiro e o levar para casa, onde ficaria até o dia 14 à tarde, quando deveria ser morto (Êxodo 12:3,6).

O fato de se levar um cordeiro para casa quatro dias antes de ser morto levava a família a desenvolver um laço com o animal. Isso dificultava o ato do sacrifício, não apenas pelo vínculo afetivo desenvolvido durante aqueles dias, mas também porque a família sabia que era um animal inocente que estava sendo morto para salvá-los. Seu sangue era espargido sobre as ombreiras e sobre a viga da porta de entrada como um sinal de proteção contra o anjo da morte; e sua carne era comida por toda a família. Para ser imolado, o cordeiro não poderia possuir nenhum defeito físico, o que o invalidaria para o sacrifício.

O cordeiro pascoal tornou-se não somente o símbolo da Páscoa, mas a razão de ser dessa Festa, pois sem o cordeiro, não haveria libertação do Egito. Sem seu sangue, todos os primogênitos teriam sido atingidos igualmente pelo juízo divino e não sobraria ninguém para contar a história do Êxodo. A despeito de se ter um cordeiro para cada lar, havia ainda um cordeiro especial que era sacrificado por toda a congregação de Israel também no mesmo horário, na tarde do dia 14 de Nisan (Êxodo 12:6).  

YESHUA – O CORDEIRO DE DEUS

A figura do cordeiro pascoal permaneceu em cena durante todas as celebrações de Pesach, através dos séculos, até a chegada do Messias de Israel no século I. Foram cerca de 1.300 anos de celebrações, ano após ano, na data designada de 14 de Nisan, como se fosse um ensaio para a grande Festa da Páscoa, aquela em que se cumpriria no verdadeiro Cordeiro de Deus (Seh HaElohim) que viria ao mundo dar sua vida pela humanidade. Na verdade, antes mesmo do primeiro cordeiro pascoal ser imolado na noite que precedeu o Êxodo, o Cordeiro de Deus já havia sido morto “desde a fundação do mundo”, segundo Apocalipse 13:8, tal é o mistério divino para o plano de redenção da humanidade. 

Yeshua é o antítipo perfeito do cordeiro pascoal. Assim como este deveria ser levado para a casa de cada família no dia 10 de Nisan, Yeshua entrou em Jerusalém (sua cidade) e no Templo (sua casa) exatamente no dia 10 de Nisan (João 12). Durante os três dias que se seguiram, Ele desenvolveu um vínculo com o povo que vinha cedo para o Templo ouvi-lo pregar a mensagem do Evangelho, as boas novas da graça de Deus, do mesmo modo que a família que trazia para casa o cordeiro pascoal criava um laço afetivo com este.

Assim como o sacerdote inspecionava o cordeiro antes de imolá-lo, a fim de verificar que não possuía nenhum defeito físico e estava apto para o sacrifício, Yeshua também foi inspecionado pela máxima autoridade dos homens presente em Jerusalém naqueles dias, quando Pôncio Pilatos disse: “Vejam, eu o estou trazendo a vocês, para que saibam que não acho nele motivo algum de acusação” João 19:4. O Cordeiro de Deus fora inspecionado pela autoridade dos homens e achado sem falta, apto para o sacrifício.

Assim como havia um cordeiro especial que era sacrificado por toda a nação de Israel, a autoridade religiosa da época, o sumo sacerdote Caifás, disse a respeito de Yeshua: “Não percebeis que vos é melhor que morra um homem pelo povo, e que não pereça toda a nação” João 11:50. O trecho que fala desse cordeiro especial, em Êxodo 12:6, usa o objeto direto “o” para dizer que a “congregação de Israel o matará ao crepúsculo”. Esse objeto no hebraico se escreve  אתו (otoh), onde א (alef) e ת (tav) são a primeira e a última letras do alfabeto e apontam para o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim na figura única do Messias. Ele era aquele que deveria padecer por toda a nação de Israel e pelo mundo inteiro, como padecia o cordeiro pascoal pela congregação dos israelitas.

A carne do cordeiro pascoal devia ser assada ao fogo e comida por toda a família. O fogo é um símbolo do juízo de Deus que recaiu sobre Yeshua ao sofrer em nosso lugar a culpa de todos nossos pecados. Ele mesmo se identificou como sendo esse Cordeiro Pascoal ao ordenar que sua carne fosse comida e seu sangue fosse bebido, conforme Mateus 26:26-28. Aqui se destaca a diferença entre o sangue do cordeiro pascoal, capaz de livrar temporariamente do anjo da morte, e o sangue do Cordeiro de Deus que é bebido para nos livrar da morte eterna, estando para sempre sobre as ombreiras e sobre a viga da entrada de nossos corações. Ele é Seh HaElohim que tira o pecado do mundo (João 1:29).

O cordeiro pascoal imolado diante de toda a assembleia de Israel era sacrificado no dia 14 de Nisan, à hora do sacrifício vespertino que era às três horas da tarde. Yeshua, como a figura perfeita do Cordeiro de Deus, foi crucificado no mesmo dia 14 de Nisan, expirando também às três horas da tarde, como relatam os Evangelhos. Após aplicar o corte fatal ao cordeiro pascoal no Templo que se encontrava amarrado às pontas do altar, o sumo sacerdote exclamava: Nishlam! que significa: “Está consumado!”, indicando que o cordeiro fora morto e o sacrifício fora executado conforme as ordenanças, e aceito por Deus. Não muito distante dali, fora dos muros de Jerusalém, amarrado à cruz, o altar do sacrifício de Deus, Yeshua disse a mesma expressão: Nishlam!, indicando que toda a obra redentora fora cumprida, expirando em seguida. O sacrifício fora perfeito e havia sido aceito pelo Pai.

“DIGNO É O CORDEIRO!”

Embora a Festa de Pesach se cumpra integralmente em Yeshua, a figura irretocável do cordeiro pascoal, essa é uma Festa que será celebrada para sempre, conforme seu “estatuto perpétuo” dado por Deus em Êxodo 12:14. Todos os judeus a celebram ano após ano. Para os judeus messiânicos e para nós cristãos gentios, ela tem um simbolismo muito maior, pois aponta para o perfeito Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Não há tempo melhor para celebrar nossa libertação do Egito, uma figura do mundo e do pecado, simbolizando a passagem para uma nova vida e a eternidade. Deus escolheu o tempo de Nisan como o “tempo de nossa redenção”. Os tempos e as dispensações são escolhidos por Ele somente. Cabe a nós atender ao seu chamado.

A noite de seder (refeição da Páscoa), a mesma que Jesus comeu com seus discípulos e quando instituiu a Ceia do Senhor, é uma excelente oportunidade de nos assentarmos à sua mesa e cear com a família e com os irmãos da fé, participando do mesmo corpo e do mesmo sangue que Ele ofereceu por nós e dos quais nos ordenou a comer e a beber para termos parte com Ele. O apóstolo Paulo também nos exorta a participar da mesma Festa de Pesach ao dizer: “Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado. Por isso, celebremos a festa” 1 Coríntios 5:7,8.  

Ao exortar os israelitas na primeira Páscoa, o Senhor diz a Moisés: “O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito” Êxodo 12:13. A palavra usada para praga aqui é נגף (neguef) e possui a mesma raiz da palavra do hebraico moderno para vírus que é נגיף (neguif). Talvez, esse verso nunca tenha feito tanto sentido como o tempo que vivemos hoje. O sangue do Cordeiro de Deus que nos perdoa e nos dá vida eterna é o mesmo que nos protege nesse mundo, seja de qualquer praga passada, presente (como é o coronavírus) ou futura. Não existe maior proteção que a do sangue do Cordeiro de Deus, ferido desde a fundação do mundo para salvar todo aquele que nele crê e recebe seu sacrifício.

Que nessa Páscoa, possamos ter uma revelação maior de Seh HaElohim, e proclamar juntamente com os anjos as mesmas palavras de adoração àquele que derramou seu sangue para nos salvar: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!” Apocalipse 5:12. Amém!


Leia também:

A Páscoa e os Quatro Cálices do Seder

Celebrando a Páscoa sem Fermento

A Páscoa e o Tempo de Nossa Liberdade

Leitura e Meditação para a Páscoa – Parte 1

O Coronavírus e as Pragas Bíblicas

O tema da Festa da Páscoa é bem mais abrangente e discutido com maior profundidade e detalhes, assim como as demais Festas do Senhor, no livro “A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo”.

Descubra a importância de conhecer nossas raízes judaicas e explore o tema com profundidade. Leia o livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo.

Segue um cântico de adoração em hebraico, gravado na Comunidade Rei dos Reis, congregação messiânica em Jerusalém, baseada no texto de Apocalipse 5:12-13, exaltando o Cordeiro de Deus que foi morto e é digno de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!

Sua assinatura não pôde ser validada.
Você fez sua assinatura com sucesso.

A OLIVEIRA NATURAL

Newsletter

Assine nossa newsletter e mantenha-se atualizado de notícias e temas sobre as raízes judaicas do cristianismo.

Compartilhe, curta e siga-nos: