
Rosh HaShanah: O Rei está no Campo
Estamos terminando a última semana do mês de Elul, cujos dias são dedicados a Teshuvá (clique aqui para saber mais). O pôr-do-sol do dia 6 de setembro de 2021 marca o início do ano novo civil judaico de 5782. Rosh HaShanah é a Festa do Senhor que celebra o aniversário da criação do homem, segundo a tradição. É uma continuação do tempo especial de arrependimento, iniciado em Elul, preparando o homem para uma visitação de Deus, pois, durante Rosh HaShanah, “o Rei está no campo”.
Rosh HaShanah (ראש השנה), literalmente “cabeça do ano” é o ano novo judaico. Ele ocorre em 1 de Tishrei que é o primeiro mês do ano civil. O ano religioso se inicia em Nisan (Êxodo 12:2). Rosh HaShanah se celebra nos dois primeiros dias de Tishrei (7 e 8 de setembro de 2021). Também marca o início dos dez Dias de Temor que são os dias sagrados, dedicados ao arrependimento e confissão de pecados, uma preparação para o santíssimo dia de Yom Kippur (Dia da Expiação), em 10 de Tishrei. O nome da festa de Rosh HaShanah nas Escrituras é Yom T’ruah (יום תרועה) ou dia do toque (do shofar), de acordo com Levítico 23:24 e Números 29:1.
Como vimos no artigo anterior, antes do Rosh HaShanah, nos dias do mês que o precede, toca-se o shofar todas as manhãs como um despertar para o povo, a fim de que se possa reexaminar o relacionamento com Deus e reacender o amor por Ele. Elul é descrito como sendo “o tempo em que o Rei está no campo”. Entenda-se por isto que o Rei dos Reis, Pai de toda a criação, sai de seu palácio para ir ao campo inspecionar sua criação, buscando um relacionamento mais profundo conosco e encorajando-nos a entrar no dia santo de Rosh HaShanah, o dia em que, segundo a tradição, “toda a humanidade passará diante dele como membros de seu rebanho”.
UM TEMPO ESPECIAL
Segundo os sábios judeus, este é o tempo em que Deus deixa de nos ver de forma coletiva para nos avaliar como indivíduos. É claro que Ele nos enxerga como indivíduos a cada dia do ano, mas, precisamente em Rosh HaShanah, Ele está mais propício a atender nossas necessidades individuais, bem como a nos pesar e a nos corrigir para que sejamos mais parecidos com Ele. Esse é um dos propósitos de se tocar o shofar a cada manhã. É um toque de despertar para que deixemos as ações repugnantes a seus olhos, e nos arrependamos de nossos pecados, voltando-nos para Ele como o único que pode perdoar nossas iniquidades e nos aproximar pelo sacrifício supremo de Yeshua.
Não podemos nos relacionar com Ele com a sujeira do cotidiano que nos contamina, mas devemos, a cada manhã, nos arrepender com pano de saco e cinza, clamando por sua presença entre nós. Talvez seja este também o motivo porque o Rei sai de seu palácio, figura do seu santo Templo no céu, e entre no campo, figura do mundo; para nos dar a oportunidade de nos encontrarmos com Ele, de nos quebrantarmos diante dele, para que seja achado por todos os que o buscam.

A Palavra diz que é melhor que julguemos a nós mesmos antes de sermos julgados por Ele. Deus está próximo de todos os que o buscam com arrependimento e confissão. Ele não resiste a um coração contrito e quebrantado (Salmo 51:17). O ato do Rei sair de seu palácio para o campo também mostra sua graça e misericórdia em querer nos alcançar, além de ser uma demonstração de humildade.
Rosh HaShanah marca o sexto dia da criação, o dia em que Deus formou o homem, soprando sobre ele Ruach HaKodesh (o Espírito Santo). Este sopro divino é representado pelo toque do shofar que também simboliza a voz de Deus. A propósito, toda a criação foi feita por intermédio da Palavra de Deus. “E disse Deus…”, e assim foi. Neste ano, Rosh HaShanah marcará o ano 5782 da criação do homem.
ABREM-SE OS LIVROS E AS PORTAS DO CÉU

As referências bíblicas para essa festa estão em Lv 23:23-25, Nm 10:9-10, 29:1 e Ne 8:1-12. A Bíblia também a chama de Festa das Trombetas. Este dia deve ser lembrado com o toque do shofar, o chifre de carneiro, e traduzido em português como trombeta, embora o original faça distinção entre as duas palavras. Na verdade, Rosh HaShanah era anunciado pelo toque do shofar e de duas trombetas de prata na entrada do Santuário, ou Lugar Santo, no Templo, lembrando a todo o povo do sopro do Senhor sobre as narinas de Adão(Adam), concedendo-lhe de seu Espírito e transformando-o em alma vivente.
As seguintes passagens fazem referência ao toque do shofar no Rosh HaShanah:
- “Tocai o shofar na lua nova, no dia da nossa festa…” Salmos 81:3-5
- “Louvai-o com o som do shofar” Salmos 150:3
- “Deus subiu com júbilo, o Senhor subiu ao som do shofar” Salmos 47:5
Rosh HaShanah é o dia em que reconhecemos a soberania de Deus como Rei do universo e Juiz de toda a humanidade. É o tempo de reconhecer que Ele continua sendo Senhor de toda sua criação, apesar do homem tantas vezes negar isto com suas atitudes. Contudo, por mais que o faça, jamais poderá acrescentar um centímetro à sua altura ou um dia à sua vida. As atitudes de se rebelar contra o Criador tem trazido infortúnios sobre a humanidade ao longo da História. Não obstante, Ele continua sendo soberano e controlando toda a obra de suas mãos.
A partir de Rosh HaShanah, prosseguem-se mais dez dias de quebrantamento e confissão de pecados, conhecidos como “Dias de Temor”, quando toda a nação de Israel se prepara para o dia mais sagrado do judaísmo: Yom Kippur (Dia da Expiação), em 10 de Tishrei. Era neste único dia do ano que o sumo sacerdote adentrava o Santo dos Santos com sacrifício de sangue para pedir perdão por si e por toda a nação, uma figura de Yeshua que foi, ao mesmo tempo, a oferta e o Sumo Sacerdote a comparecer no Templo celestial para expiar as iniquidades dos homens (Hebreus 9).
Em Rosh HaShanah, são abertos os livros para o juízo, razão pela qual esse dia também é conhecido como Dia do Julgamento (Yom HaDin) que se concluirá em Yom Kippur, quando o destino de todos os homens terá sido selado, de acordo com suas obras. Portanto, Rosh HaShanah inicia uma chamada geral ao arrependimento como indivíduo e como nação. A mensagem é: arrependa-se agora enquanto se ouve o shofar, antes que chegue Yom Kippur.
Diz-se que, em Rosh HaShanah, as portas do céu são abertas para receber os justos, e em Yom Kippur, são fechadas em definitivo. Na tradição messiânica, Rosh HaShanah representa o arrebatamento da Noiva que se unirá ao Noivo no episódio conhecido como as Bodas do Cordeiro, de acordo com o Novo Testamento, um evento oculto aos olhos do mundo. Por esse motivo, Rosh HaShanah também é conhecido como o Dia Escondido (Yom HaKeseh), como se referiu o próprio Yeshua (Mt 24:36). E Yom Kippur representa a aparição do Messias para salvar Israel de seus inimigos, seguida do juízo das nações (Mt 25:31-46).[1]
Que o toque do shofar de Deus em Rosh HaShanah possa nos levar a esse despertamento e que seu sopro possa insuflar dentro de nossos espíritos a vida de seu Espírito, atraindo-nos mais para perto dele a cada dia. E lembre-se, o Rei saiu de seu palácio e está no campo para inspecionar suas ovelhas. Corramos em sua direção e desfrutemos de sua infinita graça!
G’mar Chatimah Tovah!
Que você seja inscrito no Livro da Vida!
[1] Os significados das Festas do Senhor relacionadas à segunda vinda do Messias são estudados detalhadamente no volume 2 do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo.
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Shalom.
Por gentileza, desejo saber onde na Biblia vou encontrar essa expressão ROSH HASHANA. Faço busca e não encontro! Grata.
Shalom, Daria. O nome Rosh HaShanah (cabeça do ano) não tem na Bíblia porque foi criado bem depois das Escrituras. Ela aparece na Mishná por volta do século II d.C. Na Bíblia, essa festa é conhecida como Yom Teruah, dia do toque (do shofar). Literalmente quer dizer dia do grito ou da explosão por causa do som do shofar. Ela se encontra em Levítico 23:23-25, Números 29:1 e em outras passagens.
Muito especial este estudo.