
Tabernáculos e a Morada de Deus
Estamos em meio às celebrações da Festa de Tabernáculos (Sukkot) e gostaria de escrever sobre um tema pertinente a ela, porém, pouco abordado. Todos sabem que, ao longo dos sete dias de celebração, o mandamento é que o povo judeu habite em tendas ou cabanas, conhecidas em hebraico por sukkot, daí o nome da Festa. No entanto, pouco se fala da promessa de Deus em habitar no meio de seu povo. Então, vamos explorar a conexão entre a Festa de Tabernáculos e a morada de Deus entre os homens.
Como todas as Festas do Senhor, Tabernáculos é revestida de simbolismos proféticos. Muitos autores judeus, messiânicos e ortodoxos, escreveram extensamente sobre ela. Porém, por se tratar de uma das Festas do Outono, a se cumprir na segunda vinda do Messias, há muitos mistérios ainda a serem revelados. No volume 2 de A Oliveira Natural, dedicamos um extenso capítulo para Tabernáculos e temos plena consciência de que estamos longe de esgotar o assunto, até porque tal Festa ainda não se cumpriu no cronograma de Deus.
A PRIMEIRA FESTA DE TABERNÁCULOS
A ordem para celebrar Tabernáculos foi dada por Deus a Moisés quando recebeu a Torá no Monte Sinai. Entretanto, só pôde ser cumprida após a conquista da Terra Prometida pelos israelitas. Eles permaneceram habitando em tendas durante toda a peregrinação no deserto e até que cada tribo recebesse sua herança.
Após Moisés ter subido o Sinai pela segunda vez, onde passou novamente quarenta dias na presença do Senhor, o povo se quebrantou e se arrependeu do pecado do bezerro de ouro, e esse período ficou conhecido como Teshuvá. Após descer do monte com novas tábuas da lei, todo o povo compreendeu que havia sido perdoado de seu pecado. Esse foi o primeiro Yom Kippur. Sabiam que não eram dignos e receberam o perdão para toda a nação recém-liberta do Egito.
Deus faz uma aliança com o povo que promete se submeter aos seus mandamentos. “Tudo o que o Senhor falou faremos e obedeceremos” (Êx. 24:7). Logo após essa aliança e da entrega da Torá, o Senhor diz a Moisés para que o povo lhe traga uma oferta “de todo homem cujo coração se mover voluntariamente” (Êx. 25:2). “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” Êxodo 25:8. Esse foi o tempo imediatamente após Yom Kippur, o que equivale à Festa de Tabernáculos. O povo estava alegre por ter sido perdoado do terrível pecado de idolatria. E ficaram mais alegres ainda ao receberem a promessa de que deveriam erguer um tabernáculo para que Deus habitasse entre eles. Não é por acaso que a Festa de Sukkot é conhecida até hoje como zman simchateinu ou “tempo de nossa alegria”.
A partir daí até o final do livro de Êxodo, praticamente todos os capítulos tratam da construção do Tabernáculo e do serviço a ser conduzido nele. O povo já habitava em tendas no deserto. E agora erguem uma enorme tenda para que Deus possa habitar entre eles. O livro de Êxodo termina com a inauguração desse Tabernáculo, com a nuvem de glória que a encobre durante o dia e a coluna de fogo à noite. Essa nuvem que aparecia “perante os olhos de toda a casa de Israel” não somente comprovava que Deus estava com eles, mas servia-lhes de guia “em todas as suas jornadas” até entrarem na Terra Prometida.

Embora tenha sido inaugurado apenas no mês de Nisan, pois sua construção demandou meses, a promessa de habitar em um tabernáculo feito por mãos humanas foi feita durante o tempo de Sukkot. Certamente, a geração mais nova, a que definitivamente entrou na Terra Prometida, guardava consigo a imagem da nuvem que portava a presença de Deus no deserto. Essa mesma geração, já madura ao chegar em Canaã, pôde cumprir o mandamento de Tabernáculos de “habitar em tendas” (Lv. 23:42), porém, distante do Tabernáculo de Moisés que permaneceu em Siló durante 369 anos. Provavelmente, essa geração celebrava a Festa com uma tremenda saudade daquela presença maravilhosa que os encobriu durante 40 anos no deserto.
UMA MORADA PARA O PODEROSO DEUS
Habitar entre seu povo sempre foi um sonho de Deus. Isso remonta ao Éden, quando diariamente vinha ao Jardim para ter comunhão com Adão. Ele se comunicou com os patriarcas, mas foi com o legislador de Israel, Moisés, com quem teve uma proximidade sem precedentes, pois “falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo” Êxodo 33:11. Ainda assim, Ele desejava habitar no meio da congregação, daí a ordem para erguer o Tabernáculo.
Davi compreendeu esse desejo e almejou trazer a arca para Jerusalém. Isso se tornou praticamente uma obsessão durante seu reinado e ele expressou esse sentimento em uma bela poesia: “Não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras enquanto não achar lugar para o Senhor, uma morada para o poderoso Deus de Jacó” Salmos 132:4,5. Não foi fácil realizar esse feito e Davi aprendeu que a arca somente poderia ser trazida mediante as regras de Deus, não as suas.
E assim foi erguido o Tabernáculo de Davi, bem diferente do Tabernáculo de Moisés, pois consistia apenas em uma tenda no Monte Sião para abrigar a arca da aliança. A ausência de véus e de altares tornava esse tabernáculo bem mais simples, o que, por sua vez, transmitia uma maior intimidade entre o povo e Deus que habitava na nuvem que repousava sobre a arca dos querubins.
Sob aquela tenda singela, Davi, muitos levitas, entre músicos e cantores, bem como as demais tribos de Israel passaram horas e dias, durante anos a fio, louvando e adorando ao Senhor ao som interminável dos instrumentos musicais. Era uma áurea indescritível, marcada pela presença majestosa de Deus. Dentre os dois Tabernáculos e os dois Templos da história de Israel, o de Davi parece ter sido o que mais agradou ao Senhor, provavelmente pelo desejo espontâneo do rei e do povo de buscar sua presença íntima. Deus parece expressar um sentimento nostálgico, uma saudade autêntica dessa tenda quando promete restaurá-la em Amós 9:11. A palavra para tenda é exatamente sukkah, o que nos remete à Festa de Tabernáculos e à morada de Deus entre os homens.
TABERNÁCULOS E O TEMPLO DE SALOMÃO
Anos depois, por ocasião da inauguração do Templo de Salomão, ocorreu a mesma manifestação da presença de Deus na inauguração do Tabernáculo de Moisés, quando “saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor” 1 Reis 8:10,11. Essa nuvem de glória parecia ser mais que um respaldo da presença divina. Era uma maneira do Senhor expressar seu prazer em habitar em meio a seu povo.

Em sua oração dedicatória, Salomão ora profeticamente por todos os povos da Terra para que conheçam o Senhor e o temam, assim como Israel (2Crônicas 6:32-33). Essa oração, em conjunto com a profecia de Zacarias 14:16, levou os sábios judeus da antiguidade a enxergarem as nações gentias como protagonistas, ao lado de Israel, na Festa de Tabernáculos, motivo pelo qual também é conhecida como Festa das Nações. De acordo com 1Reis 8:2, a inauguração do Templo de Salomão foi justamente durante a Festa de Tabernáculos, o que confirma que esse é um tempo designado por Deus para fazer sua morada entre os homens.
No entanto, mesmo com essas manifestações sobrenaturais da presença de Deus, Ele intencionava algo mais profundo. Ele mesmo diz: “Onde está a casa que me edificareis? Onde será o lugar do meu descanso? Não fez a minha mão todas estas coisas?” (Is. 66:1-2). “O Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 7:48) e o próprio Salomão declarou: “quem seria capaz de lhe edificar uma casa, visto que os céus e até os céus dos céus não o podem conter? 2 Crônicas 2:6. Era necessária uma obra maior e mais excelente do que edificações humanas.
ELE “TABERNACULOU” ENTRE NÓS
O Evangelho de João começa dizendo que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo. 1:14). A palavra “habitou” no original grego significa “erguer uma tenda ou um tabernáculo” e equivale, no hebraico, a montar uma sukkah. Logo, uma versão mais fiel ao contexto judaico seria dizer que Yeshua montou sua sukkah entre nós, ou ainda que “tabernaculou” entre nós. Deus não se satisfez em apenas mostrar sua nuvem de glória no passado, mas manifestou a glória de seu próprio Filho para habitar entre nós. Por isso, no mesmo verso, João acrescenta: “Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai”.

Se considerarmos que a data real do nascimento de Jesus tem grande probabilidade de coincidir com a Festa de Tabernáculos, isso tem uma lógica perfeita.[1] Se, ao longo da história de Israel, Deus sempre marcou sua presença em meio ao seu povo durante essa Festa, que tempo mais apropriado haveria para o Filho de Deus se manifestar na Terra, erguendo sua sukkah entre nós? Não seria essa também a época do ano mais apropriada para o anjo do Senhor aparecer aos pastores nos campos e lhes dizer que trazia “novas de grande alegria” ao comunicar seu nascimento, considerando que Tabernáculos é o “tempo da nossa alegria”?
Após cumprir sua obra redentora e voltar para seu Tabernáculo celestial, Yeshua cumpriu sua promessa de enviar seu Espírito Santo (Ruach HaKodesh) a todo aquele que nele crer e o receber em sua vida. Assim, Paulo afirma que por Ele, “temos acesso ao Pai por um só Espírito (…) Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito” Efésios 2:18,22. A obra perfeita do Messias permitiu tornar seus filhos tabernáculos de carne e osso para morada de Deus.
Por fim, quando reinar absolutamente sobre toda a Terra em Olam Habah, a era vindoura de perfeição na eternidade, Deus estabelecerá definitivamente sua morada entre nós, realizando seu antigo sonho de habitar junto a seu povo sem nenhum impedimento e de modo definitivo e permanente. Foi isso que João contemplou na visão do novo céu e nova Terra: “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” Apocalipse 21:3.
[1] É de conhecimento praticamente geral e consenso entre estudiosos que a data de 25 de dezembro não é a do nascimento de Jesus. Explicamos isso no capítulo 2 do volume 1 de A Oliveira Natural. No volume 2, apresentamos o cálculo que estima sua real data de nascimento próxima ou dentro da Festa de Tabernáculos.
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Gostei muito, que o eterno o abençoe ricamente.
Obrigado, Edmilson. Shalom!
Gostei muito, parabéns. Tenho vontade de me aprofundar no tema.
Obrigado, Paulo. É realmente um tema fascinante e há muito para explorar. Shalom!
Sou também uma apaixonada por Israel, cultura e todo social desenvolvimento neste povo até os dias de hoje.
Gostaria de pautar a necessidade que temos em anunciar Jesus Cristo e isto todo material rico que a Bíblia contém sobre a Anterior Aliança evacNova Aliança, a que por ser ETERNA , permanece atual.Dado a ignorância do tempo em que ainda dispomos nesta Terra, creio que o assunto referidos são de importância como raiz, como cultura , mas como tremia o risco de não conseguir expor todas ligações e interligações propostas para fecharmos o assunto com um discernimento completo de Deus sobre essas coisas.
Daí creio que em toda parte que se vá com esta mensagem como estudo deve ser exigido que os paralelos sejam colocados em espaços curtos para que a compreensão de um tempo e outro, o que se deu na Antiga Aliança e na Nova Aliança.
Em resumo, esse assunto não deve ser usado onde não houver tempo para anunciar detalhadamente sobre a NOVA ALIANÇA.
Devemos também atentar para que a adoração a Deus não tenha um TOMBAMENTO retroativo, e com isso seguirem uma porção de misturas de leis e pactos,
Que hajam memoriais mas que seja largamente mostrado que NÃO HÁ VALOR SALVÍFICO NELES.
E que em Cristo aconteceu o fim da Lei.
Ele respeitando tal raiz, sem perder o eixo principal, transformou todos os mandamentos em dois e que seja bem esclarecido que durante a última ceia Jesus, traçou os paralelos mostrando o MEMORIAL que Ele ordenou que o praticássemos,
E logo após a última ceia, Jesus ASSINOU o pacto com seu sangue.
Seguir os ensinamentos dps apóstolos significa viver no mesmo fundamento : JESUS CRISTO.
Infelizmente ainda encontramos líderes confundindo leis, Bíblia , Escrituras, Mandamentos, e “ PALAVRA DO SENHOR”.
Aproveito pra agradecer as informações contida nesta mensagem. São de grande valor.
Prezada Emília,
Obrigado pelo comentário. A Palavra de Deus é uma só, de Gênesis a Apocalipse e abrange as duas alianças. O Novo Testamento (Brit Hadashah) foi profetizado em Jeremias 31:31 e é uma continuação da Torá, Profetas e Escritos, livros que compõem a Bíblia hebraica (Tanach). Cristo não é o fim da Lei ou da Torá. Esse é mais um dos erros de tradução que nos induz a interpretações errôneas. A palavra no original se aproxima mais de objetivo ou meta (telos). Uma tradução mais fiel ao original para Romanos 10:4 equivale a dizer que “Cristo é o objetivo da Torá”. Assim, longe de ser anulada, ela nos conduz a Ele. O próprio Yeshua diz que até que os céus e a Terra passem, nem mesmo um yud ou um acento da Torá passará (Mt. 5:18). Ele é a personificação da Torá, o Verbo de Deus. Shalom!
MUITO BOM O CONTEUDO DE TODO O SITE. PARABÉNS! DEUS ABENÇOE!
Grato, Kevin. Abraço e shalom!
Seria de imensa ajuda se vc desse cursos online sobre tudo o que lemos por aqui. Eu seria sua aluna com muito prazer.
Oi, Fernanda! Agradeço a confiança. Podemos pensar em algo assim mais à frente, vamos ver. Shalom!