O Significado do Tabernáculo de Davi em Sukkot

O Significado do Tabernáculo de Davi em Sukkot

17 de Outubro, 2024 0 Por Getúlio Cidade

Entre os dias 17 e 24 de outubro, celebra-se mais uma Festa de Tabernáculos ou Sukkot — o tempo de nossa alegria. Neste ano, abordarei sobre o significado do Tabernáculo de Davi em Sukkot, analisando algumas passagens dos profetas para trazer maior clareza à sua compreensão. Vamos buscar o significado da reedificação do Tabernáculo de Davi no contexto judaico em que foi mencionada pelo profeta Amós.   

Logo após o fim de Yom Kippur, as famílias em Israel começam a montar suas tendas ou sukkot fora de suas casas, nos quintais, nas calçadas ou nas sacadas dos apartamentos, onde permanecerão por sete dias, conforme o mandamento. É nítida a migração do tempo de lamento e pesar que marca Yom Kippur para o tempo de alegria que é a marca de Sukkot. Este ano, porém, marca a tragédia do dia 7 de outubro, ocorrida no oitavo dia da Festa no ano passado (feriado especial). Israel está lutando uma guerra em várias frentes, com muitas vítimas da barbaridade cometida pelo Hamas e dos ataques terroristas ocorridos ao longo do último ano, além dos 101 reféns que ainda estão presos em Gaza. Portanto, não será uma festa de “alegria completa”.

UMA VISÃO DO HEBRAICO

Qual a relação da Festa com o Tabernáculo de Davi? A semelhança começa no nome, embora a tradução em português não transmita bem seu significado. A palavra tabernáculo é Mishkan e significa habitação; refere-se ao Tabernáculo de Moisés. Este era o lugar da habitação de Deus, contendo os altares com seus vasos sagrados, a divisão entre pátio da congregação, Santuário e Santo dos Santos. Há outras palavras em hebraico usadas para santuários religiosos como ohel moed — tenda do encontro; ohel haedut — tenda do testemunho; heichal — palácio ou templo.

O Tabernáculo de Moisés (Imagem: Pinterest)

Vejamos a passagem de Amós que se refere ao Tabernáculo de Davi. “Naquele dia tornarei a levantar o tabernáculo de Davi, que está caído, e repararei as suas brechas, e tornarei a levantar as suas ruínas, e as reedificarei como nos dias antigos” (Amós 9:11). A Bíblia King James, usada como base para inúmeras outras versões, traduziu mal a palavra para tabernáculo. O termo original é Sukkat David da palavra sukkah. Este é o termo também usado para Sukkot (plural de sukkah) na Torá, nome da Festa dos Tabernáculos.

Sukkah é uma palavra cuja melhor tradução é barraca ou cabana, pois é algo rústico e ligado a habitação provisória, limitado a dias. É da mesma raiz do verbo lesocher (ל-כ-ך) que significa cobrir, abrigar, proteger (do tempo). Usa-se esse termo em Gênesis 33:17 para dizer que Jacó fez barracas (sukkot) para proteger seu gado e, por isso, o lugar se chamou Sukkot. Também é o termo usado em Jonas 4:5 para dizer que ele montou uma barraca a leste de Nínive, a fim de se abrigar do sol, para ver o que aconteceria à cidade. A sukkah é o mesmo tipo de proteção erguida nos campos durante a colheita para abrigar vinicultores ou no campo de batalha para os guerreiros (Is. 1:8 e 2Sm 11:11).

A Festa de Sukkot consiste em montar essas frágeis construções de madeira cobertas por galhos e folhas de árvores para se habitar por sete dias. Devido à sua rusticidade, é uma forma de se humilhar perante Deus e lembrar de seu cuidado com seus antepassados na peregrinação do deserto. O termo que se consagrou por Tabernáculo de Davi é na verdade a barraca ou cabana de Davi e nada tem a ver com o local que ele ergueu para abrigar a arca da aliança.

Todas as vezes em que os livros de Samuel e Crônicas mencionam o lugar que Davi providenciou para a arca, o termo usado é אהל (ochel) que significa tenda. A tenda é um local bem mais reforçado que uma sukkah, pois trata-se de uma morada nômade; é o símbolo da vida no deserto, em especial, no Oriente Médio na antiguidade. Abraão recebeu a visita do Senhor, por exemplo, em frente à sua tenda (ochel) no deserto (Gn 18:1).

Tenda típica do deserto (Imagem: Pinterest)

Ochel é o mesmo termo que se usa para tenda do encontro, onde Deus falava com Moisés face a face e que não deve ser confundida com o Tabernáculo. Este é o mesmo termo usado para a tenda que Davi montou em Jerusalém para a arca. O termo Sukkat David (a sukkah de Davi) só aparece uma vez na Bíblia, em Amós 9:11. Logo, a tenda para abrigar a arca da aliança, erguida por Davi, nada tem a ver com essa passagem de Amós.

A DINASTIA RESTAURADA

Sukkat David é um termo poético para se referir à ruína da casa de Davi, ou seja, à dinastia davídica que há muito deixou de existir. Este termo usado apenas em Amós é consistente com tantos outros dos profetas de Israel que fazem menção à promessa de Deus de restaurar a casa de Davi, na figura de seu Rei, o Messias, entregando-o a regência das nações. Parece que Deus escolheu esse termo cuidadosamente para se referir a algo muito frágil e passageiro como é a sukkah.

Os reinados de Davi e de seu descendente direto, Salomão, foram períodos de muita glória e esplendor. Entretanto, passaram e pereceram no tempo, como qualquer outro reino humano. Assim é a sukkah quando os ramos e folhagens de suas coberturas começam a secar ao fim dos sete dias de festa. É um lembrete de que a carne é como a erva e sua glória como a flor do campo. A erva se seca e a flor murcha ao soprar nelas o hálito do Senhor (Isaías 40:6-7).

David HaMelech – Rei Davi
(Imagem: Pinterest)

A restauração da dinastia de Davi é algo tão certo na cultura da Torá e dos Profetas que foi mencionada pelos discípulos a Yeshua imediatamente antes de Ele ascender aos céus ressurreto (Atos 1:6). Eles achavam que a restituição do reinado de Israel seria imediata, uma vez que o Senhor havia vencido a morte e ressuscitado. O que mais poderia detê-lo de assumir o trono da casa de Davi, seu antepassado, e retomar o reinado para Israel? Afinal, essa era a promessa do Messias que viria da raiz de Davi. Eles ainda não tinham noção da dispensação dos gentios que estava se iniciando e que duraria séculos até o retorno do Messias para se assentar em seu trono e reger as nações.

As profecias a respeito dessa restituição da dinastia davídica são muitas e não caberiam nesse simples artigo. Dentre tantas, destaco algumas como Isaías 2:1-4; 9:6-7; 11:3-12; Jeremias 23:5-8; 33:17,21-22,25-26; Ezequiel 34:23-24; Zacarias 8:20-23; 12:8-10; Salmo 89:23-29. Isaías 9:6, por exemplo, descreve o Messias em termos de regência e governo, ao declarar que “o principado está sobre os seus ombros”, o que é uma referência à chave simbólica que era colocada sobre o ombro dos reis nas procissões judaicas. O verso 7 declara: “Do aumento do seu governo e paz não haverá fim. Reinará sobre o trono de Davi e sobre o seu reino para o estabelecer e o fortificar em retidão e justiça, desde agora e para sempre”.

O Novo Testamento (Brit Hadashah) faz menções a essas profecias, porém, nem sempre percebidas ou compreendidas pela maioria dos cristãos gentios. Por exemplo, no primeiro capítulo de Lucas, quando o anjo Gabriel entrega a mensagem do Senhor a Myriam (este é o nome hebraico de Maria, mãe de Yeshua), ele diz que o Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai, e que o Messias reinará eternamente sobre a casa de Jacó e que seu reinado não terá fim (v.31-33). Gabriel está apenas ratificando o que foi escrito séculos antes por diversos profetas, bem como a promessa de Deus feita ao próprio Davi.

Todas essas passagens enfatizam o governo da semente de Davi e sua autoridade regente. Apontam para a restauração da dinastia davídica, sediada em Jerusalém, a capital de Israel, regendo sobre toda a Terra como centro espiritual, judicial e legislativo do planeta. O esplendor e a glória dos reinados de Davi e Salomão que alcançavam as nações da Terra, há muito ofuscados e esquecidos, serão restituídos a Israel através do Messias Filho de Davi. E “concorrerão a Ele todas as nações” (Is. 2:2).

Imagem: Pinterest

A REBELDIA PERDOADA

A dinastia da casa de Davi foi interrompida por causa do pecado de Salomão que acabou queimando incenso a falsos deuses. Isso causou a divisão do reinado de seu filho Roboão por meio da rebelião de Jeroboão e das dez tribos contra a dinastia de Davi. Este passou a reinar sobre elas e seu reino foi chamado de reino de Israel ou reino do norte; enquanto Roboão ficou com o reino de Judá, o reino do sul, composto pelas tribos de Judá e Benjamim.

Essa divisão permaneceu durante as diásporas e perdura até hoje. A dispersão causada pela queda da dinastia de Davi é conhecida como “as dez tribos perdidas de Israel”, pois foram misturadas às nações gentílicas. Apenas o Messias será capaz de reatá-las e restaurar sua unidade ao povo judeu. Essa é uma das promessas messiânicas a serem cumpridas pelo Filho de Davi, “príncipe eternamente” que unirá a vara de Judá (e Benjamim) à vara de Efraim (as dez tribos perdidas), fazendo das duas uma só vara e “nunca mais se dividirão em dois reinos” (Ez. 37:15-28). Esta profecia ainda se cumprirá (ver também Lc. 22:29-30).

É importante frisar que a rebelião contra a dinastia de Davi se estendeu às gerações subsequentes de líderes judeus que, séculos depois, também se rebelaram contra a autoridade de Yeshua, descendente de Davi, rejeitando-o como Messias e Rei de Israel. Essa é a explicação espiritual para a rejeição do Filho de Davi pela liderança de Israel, o que permanecerá até o fim dos dias. As Escrituras acima são um guia para a Igreja compreender como interceder por Israel, para que se arrependam da rebeldia cometida por seus antepassados. Para interceder com entendimento, torna-se vital conhecer o plano de Deus para Israel, principalmente de acordo com a exposição feita por Paulo nos capítulos de 9 a 11 da carta aos Romanos.

O profeta Amós vira com seus próprios olhos o esplendor da dinastia de Davi e, contudo, Deus lhe mostrara que ela ficaria em ruínas. Em vez de habitar em palácios, seus descendentes habitariam em uma sukkah, fugindo de seus inimigos. Somente após humilhar a sukkah de Davi, ao longo dos séculos, Ele promete reerguê-la “naquele dia”, quando tiver julgado seu povo por sua rebeldia. Então, Ele derramará sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém o Espírito de graça e de súplicas e reconhecerão aquele a quem transpassaram (crucificaram) (Zc. 12:10).

O profeta Oséias também fala sobre a Teshuvá de Israel para o Filho de Davi, seu Rei. “Porque os filhos de Israel ficarão por muitos dias sem rei, sem príncipe, sem sacrifício, sem coluna, sem estola sacerdotal ou ídolos do lar. Depois, tornarão os filhos de Israel, e buscarão ao Senhor, seu Deus, e a Davi, seu rei; e, nos últimos dias, tremendo, se aproximarão do Senhor e da sua bondade” (Os. 3:4-5). Oséias utiliza a expressão recorrente da Tanach para se referir aos “últimos dias” — acharit hayamim, os tempos futuros da angústia de Jacó — para dizer que o povo judeu se arrependerá em massa de sua rebelião contra a casa de Davi e virão “tremendo” (debaixo de muita tribulação) para seu Rei, o Mashiach.

Imagem: Pinterest

Esse cenário dos últimos dias preparará o remanescente de Israel para a volta do Messias. Ao firmar seu trono em Jerusalém, todas as muitas profecias a esse respeito, no Velho e no Novo Testamentos, serão cumpridas. É nesse contexto que Zacarias escreve sobre a futura celebração de Sukkot, envolvendo Sukat David — a congregação de Israel unificada e restaurada com as doze tribos, lideradas pelo Mashiach Ben David — e as nações salvas de seu juízo. “Todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém subirão de ano em ano para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, e para celebrar a Festa dos Tabernáculos” (Zacarias 14:16).


* Tabernáculos é a última das Festas do Outono, as Festas do Senhor na Torá que apontam para a segunda vinda de Yeshua. O significado profético dessas Festas e as profecias a elas relacionadas são estudadas com profundidade no volume 2 de A Oliveira Natural. Esse é um tema vital e urgente para o corpo do Messias, dado o tempo em que vivemos. Se esse assunto lhe desperta interesse e deseja conhecer mais, você precisa ler esse livro.

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