A Vitória de Trump e o Anticristo

A Vitória de Trump e o Anticristo

13 de Novembro, 2024 0 Por Getúlio Cidade

Após a vitória do Presidente Trump nas eleições norte-americanas, alguns cristãos de várias partes do mundo especulam se sua reeleição seria um sinal da aparição do anticristo no cenário mundial. O motivo principal seria a possibilidade de ampliação dos Acordos de Abraão, ocorridos sob sua liderança em seu primeiro mandato, em 2020, envolvendo Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bahrein. Vamos analisar essa possível relação entre a vitória de Trump e o anticristo.

Parte-se da premissa de que o líder mundial que consiga levar Israel e seus inimigos (em sua maioria composta por países árabes/muçulmanos) a firmarem um acordo de paz, seria o anticristo. A principal alegação seria o cumprimento da profecia do capítulo 9 de Daniel, na qual seria selada uma aliança com o povo judeu (a falsa paz) que seria quebrada “no meio da semana” (um dia da semana para cada ano), dando início à Grande Tribulação. Entretanto, há alguns fatores que precisamos analisar, tanto nas profecias quanto nos eventos geopolíticos ocorridos no Oriente Médio, antes de nos precipitarmos a tirar conclusões. 

Acordos de paz

Em primeiro lugar, o Presidente Trump não foi o primeiro líder mundial a conduzir judeus e árabes a um acordo de paz. O maior acordo de paz, após a formação do Estado novo de Israel, ocorreu com o Egito — um de seus maiores inimigos ao longo da História —, em 1979. Esse acordo foi assinado pelos presidentes dos dois países na presença do Presidente Jimmy Carter, em Washington D.C. Seus efeitos foram imediatos e selou uma paz duradoura entre judeus e egípcios que permanece firme nesse dia.

Presidente do Egito, Anwar Sadat, Presidente dos EUA, Jimmy Carter, e Primeiro-Ministro de Israel, Menachem Begin, na assinatura do acordo de paz na Casa Branca, em 1979 (Foto: AP/Bob Daugherty)

O segundo país a selar um acordo de paz com Israel foi a vizinha Jordânia, em 1994, o que trouxe fim a um conflito que durou 46 anos, desde a fundação do novo Estado, em 1948. Também foi assinado na presença de um presidente norte-americano, Bill Clinton, na Casa Branca. Até 2020, esses foram os únicos dois países árabes a assinarem a paz com Israel. Os outros dois foram EAU e Bahrein, mediados pelo Presidente Trump, nos Acordos de Abraão.

Tais acordos, porém, por mais que promovam a paz e as relações entre esses países, não resolvem o maior problema da região que é a questão palestina. Este é o calcanhar de Aquiles do conflito permanente do Oriente Médio. Exceto os países que firmaram acordo de paz com Israel, os demais não reconhecem o direito de Israel de habitar em sua terra. E a razão principal disso é a questão palestina. Essa mentalidade tem mudado e a tendência é que outros países árabes passem a reconhecer Israel como nação. O maior país árabe da região — Arábia Saudita — por exemplo, não se opôs aos Acordos de Abraão e é possível que, em breve, também assine acordo semelhante.

O fato é que, sendo o Presidente Trump ou qualquer outro líder mundial que conduza esses acordos entre Israel e seus vizinhos, isso não resolverá a questão do povo palestino. Tampouco isso fará dele um potencial anticristo. Acordos de paz desse tipo não podem ser confundidos com a falsa paz ou a falsa aliança mencionada no livro de Daniel.

A divisão da terra

A questão palestina é a causa principal da formação e da proliferação de facções terroristas contra Israel. Esses grupos são financiados pelo grande inimigo de Israel que é o Irã, ou melhor, o regime iraniano, uma vez que o povo do Irã, em sua maioria esmagadora, é simpático ao povo judeu pelos laços históricos que os unem e que remontam à história da rainha Ester com o povo persa.

Imagem: Pinterest

Essa questão somente será resolvida com a neutralização dos grupos terroristas que lutam para “varrer Israel do mapa”, o que poderá ser feito mediante a criação de um Estado palestino nos territórios autônomos na Cisjordânia e em Gaza. Esse processo somente ocorrerá mediante um conflito armado, o que já é a realidade atual da região. O líder mundial que conseguir isso estará, de fato, selando uma paz, ainda que temporária, e deverá atrair a atenção, sim, para um potencial anticristo.

Uma das razões pelas quais o Senhor julgará as nações, após sua volta, diz respeito à essa divisão da terra, conforme escrito pelo profeta Joel. “Ali com elas (nações) entrarei em juízo, por causa do meu povo e da minha herança Israel, a quem espalharam entre as nações, repartindo a minha terra” (Joel 3:2). Esta profecia ainda está por se cumprir, conforme o verso 1, que define o tempo como sendo “naqueles dias e naquele tempo”, uma referência a acharit hayamim — os últimos dias da presente era. A repartição ou divisão da terra de Israel, à qual o Senhor chama de sua, é o motivo do juízo sobre as nações.

Liberdade religiosa

Além de selar a falsa paz, há outros fatores que precisam ser reconhecidos para se identificar o anticristo. Entre eles, está a supressão da liberdade religiosa. Paulo afirma que “ele se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto” (2Ts 2:4). Portanto, a liberdade de culto ou a livre expressão de fé será totalmente suprimida pelo anticristo.

Embora isso já seja uma prática dos países comunistas que consideram qualquer tipo de crença uma afronta ao partido único do Estado, como China, Vietnã e Coreia do Norte, por exemplo, isso se tornará uma máxima no governo totalitário do anticristo. Na contramão desse argumento, o Presidente Trump, como pode ser facilmente verificado, foi um dos presidentes americanos que mais defendeu a liberdade religiosa em seu primeiro mandato.

Ele impôs sanções a países que infringiam o direito à liberdade religiosa e chegou a receber, na Casa Branca, cristãos perseguidos sob regimes hostis ao cristianismo, como foi o caso de Helen Berhane, cantora cristã presa em um contêiner e torturada por cerca de dois anos e meio, na Eritreia, por exercer sua fé.[1] Além disso, a liberdade religiosa foi uma de suas bandeiras na campanha eleitoral que acaba de reelegê-lo.

Donald Trump reage segundos após ter sido atingido de raspão na orelha direita por um tiro de fuzil em um comício em Butler, Pensilvânia, no dia 13 de julho de 2024 (Foto: AP/Evan Vucci)

A questão de Jerusalém

A questão de Jerusalém também é central na manifestação do anticristo. Trata-se da cidade mais disputada no mundo espiritual, para onde o Messias prometeu voltar e estabelecer seu trono. Ao dividir a terra de Israel em dois Estados para selar a falsa paz, provavelmente haverá a divisão política de Jerusalém de modo a satisfazer judeus e árabes. Não precisamos entrar no mérito da possibilidade de construção do terceiro Templo para vislumbrar isso. Não se pode descartar nem mesmo um acordo de paz com os palestinos que envolva a divisão da esplanada sagrada de Jerusalém dentro dessa proposta. É improvável que os dois povos aceitem qualquer tipo de divisão da cidade santa sem considerar esse local sagrado para ambos os povos.

Esse critério também não foi ou não será cumprido pelo Presidente Trump, uma vez que, em 2017, ele se tornou o primeiro líder mundial a tomar a ousada decisão de reconhecer oficialmente Jerusalém como capital eterna e indivisível de Israel, desde os tempos antigos, transferindo a embaixada norte-americana para a cidade em 2018, o que suscitou a ira dos árabes. O anticristo certamente não agiria assim.

Inauguração da Embaixada dos EUA em Jerusalém, em 14 de maio de 2018, com a presença de Ivanka Trump, filha e conselheira sênior do Presidente Donald Trump em seu primeiro mandato (Foto: Reuters/Ronen Zvulun)

Reconhecendo os sinais

A fim de identificarmos o anticristo corretamente, precisamos reconhecer alguns requisitos estabelecidos nas profecias a seu respeito. Um deles é a capacidade de magnetizar as massas com seus discursos, de acordo com Daniel e Apocalipse. Daniel diz que sua boca falará “coisas grandiosas” — devarim guedolim. Apocalipse diz que sua boca proferirá blasfêmias contra Deus, contra seu nome, contra seu tabernáculo e contra os que habitam no céu (Ap. 13:6). Embora o Presidente Trump possa fazer bons discursos, eles estão longe de magnetizar ou hipnotizar as massas com “coisas grandiosas”. E, embora não seja um modelo de discípulo de Yeshua, sempre se referiu a Deus de modo respeitoso.

Por fim, antes de se selar qualquer paz entre judeus e árabes (mais especificamente palestinos), será necessário um tempo de guerras e rumores de guerra. O mundo já está nesse caminho, aproximando-se cada vez mais de um conflito generalizado, e as Escrituras nos dizem que isso se agravará juntamente com outras catástrofes nos tempos do fim. Esse será apenas o princípio das dores de parto, como mencionou Yeshua.

Portanto, é preciso que saibamos reconhecer esses sinais, além de outros que não mencionei aqui por falta de espaço, que serão inerentes ao anticristo. Também é preciso reconhecermos os tempos em que vivemos, buscando interpretar os sinais que precedem a chegada do Messias, de modo a estarmos preparados para o encontro com o Noivo quando Ele voltar.


[1] United States: Freedom House Applauds White House Meeting with Religious Persecution Survivors | Freedom House

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