
Purim e as Luas de Sangue
Estamos diante de mais um eclipse lunar total ou lua de sangue, testemunhando, uma vez mais, um sinal do céu enviado para os homens a fim de chamar nossa atenção. Na verdade, em um período de um ano, de março de 2025 a março de 2026, teremos três luas de sangue. As três ocorrem em períodos das Festas do Senhor. Dessa vez, duas Festas consecutivas de Purim e as luas de sangue coincidirão, intercaladas por outro eclipse que ocorrerá próximo a Rosh HaShanah.
A primeira lua de sangue se dará na madrugada do dia 14 de março de 2025, coincidente com 14 de Adar, dia exato da Festa de Purim. Esse eclipse será visto pelas Américas do Norte e do Sul, e pode ser apreciado a olho nu, caso o céu esteja limpo. O terceiro eclipse ocorrerá no dia 3 de março de 2026, exatamente no dia 14 de Adar e, portanto, na próxima Festa de Purim. Seria uma coincidência cósmica? Creio que não.
Haverá ainda um eclipse lunar adicional duas semanas antes de Rosh HaShanah, no dia 7 de setembro de 2025, coincidente com 14 de Elul. Este é o mês da Teshuvá, o período de orações e confissões que prepara o povo de Israel para as Festas do Outono, Festas estas que apontam para a segunda vinda do Messias. Portanto, estamos diante de uma tríade de luas de sangue com início e fim em Purim, intercalada exatamente no meio do período por Rosh HaShanah. Essa é uma ocorrência muito rara.

O PRENÚNCIO DO 7 DE OUTUBRO
A última lua de sangue ocorreu em 15 de maio de 2022 e escrevi sobre ela aqui em nosso blog no artigo A Lua de Sangue e as Festas do Senhor (22/05/2022). Sua data coincidiu com Pesach Sheni ou a segunda Páscoa, a ser celebrada um mês após a Festa, conforme a ordenança de Deus a Moisés, ocasião em que a Páscoa podia ser celebrada mais uma vez para permitir uma segunda chance aos israelitas que, por algum motivo justificável, não pudessem participar na data prevista. Esse eclipse também ocorreu a alguns dias de Pentecostes, a grande Festa da Colheita.
Naquele artigo, ressaltei que a lua de sangue ocorria em um ano de shemitá (2021/22), o que poderia prenunciar algo para Israel no ciclo de sete anos seguintes, ciclo este que se iniciou em setembro de 2022. Escrevi também: “Deus pode estar chamando a atenção de Israel e das nações para algo logo à frente”. Olhando para trás, aquela lua de sangue parece ter anunciado a grande tragédia ocorrida no ano seguinte com a nação de Israel, no 7 de outubro de 2023, quando sofreu o ataque vil e covarde do Hamas.
O 7 de outubro não foi apenas uma data que marcou o início de uma das muitas guerras do Estado judeu, mas um divisor de águas para Israel e para as nações. A partir dela, iniciou-se um conflito aberto e ostensivo em várias frentes que tem sido o mais prolongado na história do Estado moderno de Israel. A invasão inevitável de Gaza para destruir o poder armado do Hamas atraiu os ataques do Hezbollah, no Líbano, e do Houthies, no Iêmen. O Irã que usa esses grupos terroristas como peões para pressionar e desgastar Israel, pela primeira vez na história, realizou dois ataques diretos contra o território judeu, o que também resultou em um ataque inédito de Israel contra o território iraniano.
O 7 de outubro também arrastou para o conflito a maior potência militar do mundo — os Estados Unidos — juntamente com outros membros da OTAN que passaram a enfrentar um inimigo comum como o Houthis, no Iêmen. O grupo terrorista ameaçou todo o tráfego mercante no Mar Vermelho, realizando ataques indiscriminados sobre qualquer navio que atravessasse suas águas, em retaliação à guerra conduzida por Israel em Gaza. Esse confronto hostil, envolvendo diferentes atores no Oriente Médio e, que nunca custa lembrar, pode evoluir para uma guerra mundial, ainda está longe de ser solucionado. Aquela lua de sangue de 2022 foi um presságio desse enorme conflito, um sinal de alerta dos céus para Israel e para as nações.

MISTÉRIOS DE PURIM
O livro de Ester que conta a história de Purim é cercado de mistérios. Há vários artigos em nosso site em que abordamos esses mistérios e seus desdobramentos na história de Israel, tanto na antiguidade como nos tempos modernos. É uma história que se inicia com uma notícia trágica para Israel, mas termina com um grande livramento para todo o povo judeu espalhado pelas províncias persas. Seu arqui-inimigo, Hamã, é descendente de Amaleque, figura que reaparece em todas as gerações para destruir o povo judeu, uma vez que Amaleque é um espírito contra o qual o Senhor promete guerrear até riscar seu nome em definitivo de debaixo do céu (Êx. 17:14,16). Em toda história de perseguição e guerra contra os judeus, Amaleque se levanta para causar destruição e dor, mas, no fim, é derrotado.
Esse é o roteiro da história de Purim que se repete ao longo das eras e, na atualidade, não parece diferente. A tragédia do 7 de outubro foi o episódio mais recente do ataque de Amaleque contra os judeus. Porém, tem redundado em grave prejuízo para os inimigos de Israel. À medida que o conflito se expandiu, vimos o padrão do livro de Ester se repetir. Todos os esforços de Hamã para destruir Israel fracassaram. No fim, Hamã é envergonhado e derrotado, enquanto Israel recebe livramento e honra.
Não parece por acaso que essa tríade de luas de sangue comece e termine justamente em Purim, em um tempo em que Israel trava uma das maiores de suas guerras, na qual já perdeu milhares de vidas. Ela se iniciou com uma tragédia, apenas comparável em termos de violência ao Holocausto, na Segunda Guerra. Entretanto, gradativamente, Israel foi conquistando vitórias, embora com um custo altíssimo de vidas, sem mencionar o drama e trauma das centenas de reféns, ainda em andamento, que atinge toda a nação.
Apesar de o Hamas não ter sido totalmente destruído, sua estrutura operacional foi arrasada pelas FDI, sua cadeia de comando exterminada e seus milhares de terroristas dizimados. O Hezbollah iniciou os ataques no norte do país para apoiar o Hamas, mas foi igualmente dizimado após as FDI invadirem o Líbano. Isso ocorreu logo após a operação perfeita e devastadora dos pagers, em setembro de 2024, que feriu e matou milhares de terroristas, e os ataques por drones e aeronaves da força aérea que eliminaram toda sua cadeia de comando. Esse enfraquecimento do Hezbollah levou também à queda do regime na Síria, dividindo e enfraquecendo o país, historicamente outro grande inimigo de Israel.
Por fim, o próprio Irã atacou diretamente Israel com centenas de drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos, em duas ocasiões. E nas duas, nenhuma só pessoa foi morta em território israelense, o que foi um verdadeiro milagre. Isso suscitou um ataque de retaliação de Israel que empregou a força aérea para infringir graves danos à estrutura militar operacional e logística do Irã, especialmente em sua capacidade de defesa aérea, sem que nenhuma aeronave israelense fosse perdida.
O que torna esse conflito ainda mais significativo é saber que o Irã é a antiga Pérsia, exatamente o lugar em que se desenrola a história de Purim na Bíblia. O Irã está obstinado em obter definitivamente sua arma nuclear para ser empregada contra Israel a fim de “varrê-lo do mapa”, como seus líderes declaram abertamente. Um grande evento desse conflito em andamento seria um possível ataque de Israel ao programa nuclear do Irã.
Não se descarta a participação dos EUA nesse possível ataque. O presidente Trump já deixou claro que o Irã não pode ter armas nucleares e prometeu ser duro, caso o regime persista em seu programa. Se não participarem desse ataque diretamente, darão todas as condições para Israel “terminar o serviço”, como afirmou o primeiro-ministro Benjamim Netanyahu.

Um golpe definitivo para destruir qualquer pretensão iraniana de ter seu armamento nuclear seria um ponto de inflexão no Oriente Médio e no resto do mundo. Porém, qual seria a reação dos demais países do novo eixo do mal (Rússia, China e Coreia do Norte) que se aliançaram com o Irã? Estariam essas luas de sangue alertando para esse tipo de ataque ou para um conflito generalizado no Oriente Médio? Israel vencerá o conflito e seu eterno inimigo Hamã será derrotado e envergonhado novamente? Essa tríade de luas de sangue parece estar clamando dos céus. Resta saber se estamos prestando atenção.
A LUA DE SANGUE E O MESSIAS
Como destacado no Talmude, o eclipse lunar é um mau presságio para Israel e o solar, mau presságio para as nações. Os calendários lunar e solar regem seus tempos e estações, e o sol e a lua são luminares que Deus pôs no firmamento para demarcar suas Festas e seus tempos designados (moadim), segundo Gênesis 1:14, exatamente como ocorre nessa tríade de luas de sangue. A palavra moadim não se refere a estações climáticas e, sim, às Festas do Senhor.
Embora a lua de sangue fale mais diretamente com Israel, é um sinal que acaba afetando as nações. Tudo o que ocorre em Israel reverbera no mundo. Israel é como uma caixa de ressonância para o planeta. Vejamos o exemplo do 7 de outubro que mudou definitivamente a maneira de como os governos e nações se relacionam com Israel e com seu povo. Após o início das hostilidades, o antissemitismo disparou assustadoramente no mundo, quando deveria ocorrer o contrário, pois todos sabem exatamente como essa guerra começou e quem a iniciou. As nações foram obrigadas a se alinharem ou a se oporem abertamente a Israel, apoiando terroristas, o que fez cair a máscara de muitos governantes e de órgãos internacionais como a própria ONU, bem como expor sua hipocrisia e duplo padrão.
Essa também é uma situação bem similar a Purim. Quando foi disseminado o decreto de destruição do povo judeu entre as províncias do império persa, o ódio aos judeus aflorou rapidamente entre seus vizinhos e agora não é diferente. Entretanto, o que estava com data marcada para ser o extermínio do povo da Torá acabou por ser revertido. O lamento e a dor foram transformados em regozijo e festa. A derrota e a vergonha que os inimigos de Israel queriam lhe impor caíram sobre eles. Será isso que testemunharemos nos próximos meses e anos, em mais um episódio da sequência da história de Purim, anunciado por essas luas de sangue? Acredito que sim.
A lua de sangue fala diretamente a Israel, indiretamente às nações, mas também está intimamente ligada ao Messias e aos sinais de sua vinda. A lua é uma figura de Israel (Ap. 12:1) Os sábios ensinam que, assim como a lua nova é invisível no céu, parecendo que se foi, ela retoma seu crescimento, fase a fase, até reaparecer cheia no resplendor de seu brilho. Assim tem sido a história de Israel que, após sofrer todos os ataques de seus inimigos, pode parecer morto, mas permanece resiliente e ressurge em força e esplendor. Essa também é uma figura do Messias que parece distante e ausente, mas, à medida que se aproxima o fim, Ele começa a aparecer nos céus, brilhando em intensidade, até que “todo olho o verá” em majestade e poder.
Yeshua, falando dos eventos que ocorrerão imediatamente antes de sua volta, adverte que “haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas” (Lc. 21:25). Em Apocalipse, na abertura do sexto selo, antecedendo os juízos de Deus sobre os homens, “a lua tornou-se como sangue” (Ap. 6:12), um eco da profecia de Joel, 800 anos a.C., de que a lua se converteria em sangue antes do grande e terrível dia do Senhor (tempo de juízo) (Jl.2:31). Acontecimentos astronômicos tão significativos como essa tríade de luas de sangue não podem ser ignorados. Além de uma mensagem direta de Deus aos habitantes da Terra, é um sinal claro da proximidade da chegada do Messias. Bendito seja o seu Reino eternamente!
Referência:
What You Need To Know About the March 2025 Total Lunar Eclipse – NASA Science
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