O Coronavírus e as Pragas Bíblicas
É passado o tempo de Purim e nos aproximamos da Festa da Páscoa, uma das mais incríveis de todas as Festas bíblicas, onde há muito do que falar e revelar. Nesse breve interlúdio da sinfonia maravilhosa e profética que são as Festas do Senhor, gostaria de falar um pouco sobre o hebraico no que se refere ao coronavírus, talvez o termo mais pesquisado no Google em todo o mundo durante os últimos doze meses, e sua relação com as pragas bíblicas descritas nas Escrituras.
O termo para vírus como o conhecemos hoje logicamente não consta na Bíblia por se tratar de uma descoberta relativamente recente na História. Embora usada anteriormente com outras conotações, a palavra vírus como termo científico moderno para um agente microscópico infeccioso data apenas a partir da década de 1880.[1]
Contudo, ao analisarmos esse termo no hebraico moderno e a palavra para praga no hebraico bíblico, chega-se a uma conclusão surpreendente. No hebraico moderno, coronavírus é נגיף קורונה (neguif corona). A palavra neguif equivale a vírus. A palavra mais usada para praga nas Escrituras é נגע (nega) e também significa doença contagiosa, aflição, ferimento.[2] No hebraico moderno, quando uma pessoa está infectada por um vírus, diz-se que ela está נגוע (nagua) que significa infectada, contaminada. Ambas as palavras, nega e nagua, possuem a mesma raiz. As palavras neguif e nega, embora separadas por milênios, possuem raízes similares. Como se explica isso?
A resposta está no que, em hebraico, se chama shoresh que nada mais é que o radical das palavras. A quase totalidade das palavras em hebraico pode ser reduzida a um radical de três letras que contém a essência de seu significado. Até para quem não conhece o hebraico, fica relativamente fácil estabelecer essas ligações entre palavras apenas olhando para o shoresh. E aqui está uma das maiores características que torna o hebraico, tanto o antigo (bíblico) quanto o moderno, uma língua fantástica. Pelo radical das palavras, pode-se chegar a conclusões reveladoras das Escrituras. Essa é uma das maiores perdas que se tem nas traduções da Bíblia, uma vez que nas demais línguas esse fenômeno não ocorre.
Se duas palavras em hebraico que possuem a mesma raiz são encontradas em locais diferentes das Escrituras, estabelece-se uma relação entre elas. Na tradução em português, se tais palavras são traduzidas em outras duas palavras distintas, perde-se essa relação. Por outro lado, quando a tradução em português corresponde à mesma palavra, quando no hebraico as palavras são diferentes, também houve uma perda do texto original e consequentemente de seu significado. Curiosamente, não há tantos radicais no hebraico bíblico, porém, o número de palavras deles derivadas é enorme. Um expressivo número de interpretações rabínicas da Bíblia é oriundo dessa relação entre palavras de mesmo radical.
Por exemplo, no livro de Êxodo 2:3, a mãe de Moisés o coloca em um cesto para escondê-lo dos servos de faraó que dera ordem para matar todos os bebês israelitas, revestindo-o de betume e piche para torná-lo impermeável, e largando-o no rio Nilo, onde foi resgatado pela filha de faraó. A palavra para cesto e seu radical é תבה (tebah), a mesma palavra usada em Gênesis 6:14 por Deus, quando diz a Noé para construir uma arca (tebah) e revesti-la de betume por dentro e por fora. A relação entre as duas palavras e as duas passagens é imediata no hebraico, o que infelizmente, não ocorre na tradução em português. Assim como Deus resgatou Noé e sua família por meio de uma arca revestida de betume das águas do dilúvio, Ele usou outra “arca” também revestida de betume para resgatar Moisés, o Libertador de Israel, das águas do Nilo.
Outro exemplo se dá com a palavra para oferta que é korban (קרבן). Ela provém da palavra karov (ק-ר-ב) que significa próximo, uma vez que as ofertas são destinadas a levar as pessoas para mais próximo de Deus. Entretanto, a simples tradução de korban para o português, como ocorre nas demais línguas, não transmite a essência de seu significado, o que no hebraico ocorre naturalmente. Ao apresentar a Deus uma oferta, a pessoa se aproxima dele e, assim, ganha muito mais do que dá. Esse é o sentido real de se ofertar a Deus.
Um exemplo de como um shoresh dá origem a várias palavras pode ser visto na raiz ק-ד-ש que significa santo ou sagrado (kadosh). Dela, origina-se kedushá (santidade), kiddush (oração feita para santificar o vinho), kaddish (oração da manhã), aron kodesh (armário onde são guardados os pergaminhos da Torá), kiddushin (noivado) e Beit HaMikdash (o Templo).
Além de ser a língua original das Escrituras Sagradas, o que torna o hebraico uma língua única é o fato de ter ressurgido após séculos de desuso. O hebraico bíblico nunca deixou de ser usado pelos judeus religiosos, tanto em Israel quanto na diáspora, porém, não era usada como língua para se comunicar, exceto de forma muito rudimentar. O hebraico moderno começou a surgir no fim do século XIX, após seu grande mentor imigrar para Israel: Eliezer Ben-Yehuda, um linguista e nacionalista apaixonado por suscitar o hebraico como principal língua de comunicação entre os judeus.
Logicamente, esse foi um processo longo e trabalhoso que levou o resto da vida de Ben-Yehuda e só terminou após sua morte em 1922. Contudo, seu enorme esforço e o dicionário de 17 volumes que criou para a língua moderna foram acolhidos pelos judeus como uma fonte inspiradora e, por ocasião da criação do Estado novo de Israel, em 1948, o hebraico moderno já era plenamente falado por toda a nação. Nenhuma outra língua no mundo passou por esse processo de ressurgimento como o hebraico.
É óbvio que palavras modernas não constavam do hebraico bíblico e tiveram que ser criadas. Muitas delas foram simplesmente transliteradas e adaptadas, especialmente as de origem latina, como é o caso da palavra música, cuja pronúncia no hebraico moderno é exatamente essa. Outras, foram formadas a partir dos radicais existentes nas palavras do hebraico bíblico. Nesse contexto, encontramos a conexão entre as palavras vírus e infectado, no hebraico moderno, e praga, no hebraico bíblico, conforme visto acima, uma ligação que chega a ter uma conotação profética.
“Praga alguma chegará à tua tenda”
Quando se menciona praga, a primeira lembrança é em relação às dez pragas do Egito, trazidas por Deus por intermédio de Moisés, para ferir faraó e os egípcios pela forma com que tratavam o povo de Israel. Entretanto, a primeira vez em que esse termo aparece na Bíblia está em Gênesis 12:17, ocorrida séculos antes, quando o Senhor fere também a outro faraó e sua casa por causa da mulher de Abraão. Assim, as primeiras vezes em que esse termo ocorre na Torá estão ligadas ao castigo de Deus ao Egito por causa da forma com que trataram os israelitas. Sendo o Egito uma figura do mundo, isso por si só deveria ser um alerta sobre a forma com que as nações tratam Israel nos dias atuais.
Todas as vezes em que aparece a palavra praga nas Escrituras (seja no termo nega ou nos demais termos menos frequentes), está ligada a castigo, juízo divino, não somente sobre os inimigos de Israel, porém, também sobre os israelitas, como em 2Samuel 7:14, onde o Senhor diz que corrige os filhos com “açoites” (nega no original). O termo aparece diversas vezes na Torá quando o assunto tratado é a praga da lepra. A lepra também é considerada um castigo, especialmente para punir pecados relacionados à língua, como em Deuteronômio 24:8-9, quando Deus se refere ao pecado verbal de Miriam contra Moisés e a consequente lepra com que foi ferida. Aliás o pecado da língua continua a ferir muitos de uma espécie de lepra espiritual ainda hoje.
Em Êxodo 11:1, o Senhor diz a Moisés que traria mais uma praga (nega) sobre faraó e os egípcios antes da partida do povo. Seria a praga dos primogênitos. Essa era a pior de todas e só havia um modo de salvar os primogênitos israelitas para que o anjo da morte não os ferisse. Aqui entra em cena a figura do cordeiro pascal cujo sangue devia ser espargido sobre as ombreiras e viga da porta de cada casa das famílias israelitas.
Essa mesma palavra volta a ocorrer em uma das passagens mais messiânicas de toda a Bíblia que é o capítulo 53 de Isaías, onde os sofrimentos do Messias são preditos cerca de 700 anos antes de seu nascimento. Isaías profetiza que “por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido” Isaías 53:8. A palavra para “ferido” é nega. Ou seja, Yeshua sofreu sobre si a praga do castigo de Deus por causa do pecado de Israel e de toda a humanidade. Ele derramou seu sangue a fim de resgatar não apenas os primogênitos de Israel, mas todo homem que nele crê para receber a vida eterna. Yeshua é o verdadeiro Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! (João 1:29).
Essa palavra também ocorre em um dos salmos mais conhecidos por todo o mundo cristão e o primeiro a ser lembrado quando se pensa em proteção divina. É claro que falo do salmo 91. Ele declara: “Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda” Salmos 91:10. Por praga, podemos incluir aqui, pela analogia com o hebraico moderno, qualquer tipo de vírus ou micro-organismo que seja invisível a olho nu e seja letal, como é o coronavírus, palavra que gerou essa reflexão, ou qualquer outro vírus que venha a ser nomeado. Essa é uma promessa preciosa, uma proclamação de fé. No entanto, existe uma condicionante para recebê-la e está no verso anterior: “Se fizeres do Senhor o teu refúgio e do Altíssimo a tua habitação” (v.9 – AEC).
Nesse tempo de incerteza que vive o mundo em meio a essa pandemia, é alentador constatar que há um Deus no céu que verdadeiramente protege os que nele põem sua confiança e se refugiam debaixo de suas asas. E que nosso Messias sofreu sobre si todas as pragas que possam vir sobre a humanidade, incluindo o famigerado coronavírus, e tem o poder para nos livrar não somente da morte física, mas da morte eterna, se tão somente crermos em seu sacrifício, seu korban que nos fez aproximar do Pai. Que façamos do Altíssimo nossa morada e nenhum vírus mortal chegará ao nosso lar.
[1] virus | Origin and meaning of virus by Online Etymology Dictionary (etymonline.com)
[2] Concordância de Strong nº 5061