Leitura e Meditação para a Páscoa – Parte 2
5º DIA – 19 de Nisan (1º de abril)
Esse é o quinto dia de Pesach e o quarto dia na contagem do ômer. A leitura e meditação da Torá reservada para esse dia é a famosa passagem de Moisés no monte Sinai recebendo as novas tábuas da lei (as primeiras ele destruíra ao descer do Sinai e ver o povo adorando o bezerro de ouro). Quando o Senhor passa diante de Moisés, este clama: “Senhor, Senhor, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade, que usa de beneficência com milhares, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado. Contudo, ao culpado não tem por inocente; castiga a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até a terceira e quarta geração” Êxodo 34:6,7. Moisés clama primeiro o tetragrama impronunciável do nome de Deus duas vezes, traduzido em nossas bíblias por SENHOR (em hebraico: Adonai ou HaShem), seguido do nome “El” (Deus), exaltando logo a seguir seus atributos.
Os primeiros desses atributos estão relacionados à misericórdia, compaixão e perdão. Os outros atributos estão relacionados a punição e castigo. Por essa razão, para os judeus, o tetragrama sagrado (יהוה) traduzido em nossas Bíblias por “Senhor” está ligado à misericórdia e perdão. O nome “Deus” está ligado a castigo e juízo. O importante é saber que estamos lidando com a mesma pessoa. O mesmo Deus que perdoa e se compadece é o mesmo que pune e castiga. São duas faces da mesma moeda. Não podemos nos relacionar com Ele se não conhecemos esses atributos. Se conhecemos apenas um dos nomes, certamente falharemos em nos relacionar com Ele. Por essa razão também Paulo nos exorta: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” Hebreus 12:28,29.
A Páscoa fala desses dois atributos do Pai ao amar o mundo de tal maneira, enviando Seu único Filho para morrer por nós e salvar a humanidade. Não existe amor maior que esse. Mas o Pai também mostrou o atributo da justiça, fazendo cair sobre o Filho o castigo de nossos pecados, o fogo de seu juízo. Jesus experimentou o fogo consumidor do Pai. Por isso, o cordeiro pascoal não podia ser deixado para o dia seguinte; a carne que não era comida devia ser consumida no fogo. Precisamos saber que o SENHOR dos céus e da Terra é amor e misericórdia, mas também é o Deus do juízo, do castigo e do fogo consumidor. Que possamos conhecê-lo na sua plenitude, amando-o e temendo-o como se deve.
Leitura diária: Êxodo 34:1-26
6º DIA – 20 de Nisan (2 de abril)
Sexto dia de Pesach e quinto na contagem do ômer. A porção da Torá reservada para hoje está em Números 9 e fala sobre o questionamento que alguns israelitas fizeram a Moisés sobre a participação na Páscoa do Senhor. Eles estavam ritualmente impuros e não puderam participar da Festa. Moisés consulta ao Senhor e Ele lhe diz que aqueles homens deveriam se purificar normalmente e poderiam celebrar a Festa no dia 14 do segundo mês, ou seja, exatamente trinta dias após o início de Pesach. Aqueles, porém, que estivessem limpos e deixassem de celebrar a Festa seriam eliminados do povo, em outras palavras, perderiam sua herança em Israel. E o texto finaliza dizendo que qualquer estrangeiro ou peregrino (qualquer não israelita) que quisesse poderia celebrar a Páscoa, desde que cumprisse o ritual prescrito a Moisés.
A lição que extraímos daqui é que o Senhor é o Deus da segunda chance, até mesmo quando se trata das Festas estabelecidas por Ele para se encontrar com seu povo. Ele sempre nos dará uma oportunidade a mais, sempre mais do que merecemos. Isso fala de beber do cálice da salvação oferecido pelo Senhor cujo conteúdo é seu próprio sangue. A salvação é para todos, inclusive os gentios. Porém, se a recusamos, perdemos nosso direito e herança em Yeshua. Por isso, diz Paulo: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram” Hebreus 2:3.
Ainda nessa porção do dia, o Senhor chama a atenção mais uma vez para o cordeiro pascoal. Nada dele poderia ser deixado para o dia seguinte (consumido pelo fogo, um símbolo do juízo divino sofrido por Jesus) e nenhum de seus ossos poderia ser quebrado (Nm. 9:12). Essa determinação está também em Êxodo 12:46 e há outras passagens como o Salmo 34:20, onde é profetizado que nenhum osso do Messias seria quebrado. João relembra essa passagem na crucificação para afirmar seu cumprimento em Jesus. Tudo o que ocorre com o cordeiro pascoal aponta profeticamente para o Messias em seus mínimos detalhes. E tudo o que é profético é importante para Deus. Por isso, ao assar o cordeiro no fogo e ao manuseá-lo para comer, tinha de se ter muito cuidado para não quebrar nenhum osso, assim como nenhum osso de Jesus foi quebrado, o que é incrível, dado o sofrimento pelo qual passou.
Mas o que significa nenhum osso seu ser quebrado? Apenas um capricho do Pai? Sim e muito mais que isso. O corpo de Jesus é a igreja espalhada ao longo do tempo e do mundo. Embora sofresse todo tipo de flagelo, o Pai manteve o corpo de seu Filho em unidade, todos os ossos no lugar, o que aponta para uma igreja forte e coesa, não dividida e unida no seu Nome. O capítulo que melhor ilustra isso está em Efésios 4, onde Paulo fala da unidade do corpo de Cristo continuamente. Pode ser que a igreja que conheçamos hoje não seja essa retratada por Paulo e esteja dividida por todos os lados. Mas no final prevalecerá a vontade do Senhor e “nenhum de seus ossos será quebrado”. Seremos “um só corpo e um só Espírito” em Cristo Jesus, nosso Cordeiro Pascoal, aquele que viveu, morreu e ressuscitou por nós, comprando-nos com seu próprio sangue para Deus (Ap. 5:9).
Leitura diária: Números 9:1-14;
Leitura adicional sugerida: João 19:28-37 e Efésios 4:1-16.
7º DIA – 21 de Nisan (3 de abril)
Sétimo dia de Pesach e sexto na contagem do ômer. O sétimo dia da Festa dos Asmos é considerado especial pelo Senhor (ver Êx. 13:6 e Nm. 28:25). É um sábado solene, assim como o primeiro dia da Festa (15 de Nisan) (Nm. 28:18). E o motivo para isso, segundo a tradição, é porque foi nessa data que se deu o grande milagre da travessia do Mar Vermelho, após Israel ter acampado em Etã, à entrada do deserto, por alguns dias. Esse foi um tempo de incertezas até o Senhor enviá-los para a fronteira à beira do mar. Ao verem que faraó vinha atrás com seu exército, os filhos de Israel tiveram muito medo e o pânico tomou conta do povo. Foi nesse momento de desespero que clamaram ao Senhor. A tradição diz que o clamor único era: Anah Adonai Hoshiah na! (Rogamos, Senhor, salve agora!), de onde provém a expressão que ficou tão conhecida entre os cristãos como “Hosana”. Clamaram repetidamente e seu clamor foi ouvido por Deus que ordenou a Moisés para que o povo marchasse. É nesse momento que o mar se abre milagrosamente para Israel atravessar.
Alguns séculos mais tarde, Davi escreveu o Salmo 118 (o último salmo cantado por Jesus e seus discípulos no seder de Pesach), e usou exatamente essa mesma palavra que se tornou uma expressão messiânica, ou seja, que será cantada como louvor ao Messias por ocasião de sua aparição para salvar Israel de seus inimigos no fim dos dias. Qualquer judeu religioso sabe disso. Essa foi a mesma expressão com que o povo recebeu Yeshua em sua entrada triunfal em Jerusalém quando clamou: Hoshiana l’Ben David! Baruch Habah b’shem Adonai! (Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!) (Salmo 118:25-26). A expressão Hosana aqui muda completamente de um clamor por socorro para um de louvor e adoração. Embora signifique “salve agora”, ela passou a ser um grito de louvor à salvação do Senhor. A palavra Hosana provém do verbo lehoshia (להושיע) que significa salvar, resgatar. A palavra salvação (yeshuah – ישועה) — de onde provém o nome de Yeshua (ישוע) — e Hosana possuem a mesma raiz (י-ש-ע). Moisés sem saber usa o nome do Messias quando diz ao povo: “Não temais. Estai quietos e vede a salvação do Senhor que hoje vos fará” (Êx. 14:13). A palavra Hosana e o nome do Messias estão intimamente ligados, desde a raiz.
Jesus entrou em Jerusalém em 10 de Nissan, quatro dias antes de sua morte, 14 de Nissan. Esse era o dia em que o cordeiro pascoal devia ser colocado dentro das casas de cada família de Israel (Êx. 12:3), sendo guardado até o dia 14 quando deveria ser sacrificado à tarde. Ele é o Cordeiro de Deus que vinha expiar os pecados do mundo. Quando o povo clamou Hosana em sua entrada triunfal, estava saudando-o como Messias. Por isso alguns fariseus ficaram contrariados e pediram a Jesus que os fizesse calar, ao que o Senhor respondeu: “Se estes se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lc. 19:40). O que Jesus quis dizer é que aquele 10 de Nissan, onde o Cordeiro de Deus devia entrar em Jerusalém e ser recebido como Messias estava tão gravado na agenda de Deus antes da criação do universo que era impossível que Ele não fosse louvado aos gritos proféticos de Hosana!
Que essa mesma expressão de louvor possa estar em nossos lábios e em nossos corações nesse dia e sempre. Pois clamamos também quando estávamos condenados à morte, perseguidos pelo deus desse século, e o Senhor ouviu nosso clamor, salvando-nos do pecado e do mundo, livrando-nos do inferno, convertendo nosso grito de socorro em grito de louvor e gratidão. Em breve, o Messias voltará para Jerusalém e seus pés estarão novamente sobre o Monte das Oliveiras, de onde atravessará o vale do Cedron até a porta dourada, por onde entrará na cidade para estabelecer seu reino eterno em Sião. Naquele dia, iremos clamar como clamou o povo em sua primeira vinda, com todos os santos do Senhor e com todos os anjos: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Louvado seja o seu nome eternamente. Amém!
Leitura diária: Êxodo 13:17-15:27; 2Samuel 22:1-51 (o cântico de Davi faz referência à abertura do mar); Cantares de Salomão (normalmente lido no sétimo dia de Pesach); Apocalipse 15:1-4 (o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro).
Leitura adicional sugerida: Mt. 21:1-11 e Lc. 19:28-44.
8º DIA – 22 de Nisan (4 de abril)
Oitavo dia de Pesach e sétimo na contagem do ômer. Esse é o último dia dos Asmos, encerrando a Páscoa do Senhor. Esse dia da festa é dedicado ao Messias, uma forma de anunciar seu Reino vindouro de paz e justiça sobre a Terra. Os profetas dizem que a Terra será abalada antes da vinda do Senhor. Tudo o que pode ser sacudido, seja grande ou pequeno, será. Isso é necessário para que o Messias se manifeste (Ageu 2:6-7). Estamos vivendo atualmente uma das maiores crises que o mundo já viu, onde tudo o que pode ser abalado está sendo nesse momento, principalmente a economia mundial.
De forma geral, a confiança do mundo está no dinheiro que é o deus a que serve. É um ídolo para muitos, inclusive para parte da igreja. Yeshua ensina que não se pode servir ao dinheiro e a Deus ao mesmo tempo. E nesses dias, o Senhor está sacudindo as estruturas de mamom de forma violenta, em todo o mundo. Muitos perderam reservas financeiras acumuladas de anos da noite para o dia; há pessoas se suicidando por causa disso; aqueles que tinham toda a esperança no dinheiro estão arruinados e desorientados. São tempos difíceis e sombrios.
Portanto, tudo o que pode ser abalado está sendo abalado e sacudido. E assim será até a manifestação do Messias perante os olhos de toda a Terra. Muita coisa ainda irá acontecer, mas só o fato de vivenciarmos tudo isso é motivo de nos animarmos porque a nossa redenção está próxima (Lc.21:28).
A porção de leitura de hoje abrange o prenúncio do Messias e de seu Reino, de acordo com o profeta Isaías. Nessa passagem também há alguns sinais que se cumprirão antes da vinda do Messias para reinar entre nós. Deus ajuntará todos os desterrados de Israel e os dispersos de Judá dos quatro cantos do mundo em sua terra Israel. Desde a fundação do novo Estado de Israel, em 1948, aumenta a cada ano o número de imigrantes judeus que voltam à sua terra. Quando todos tiverem regressado, o Messias virá. É o cumprimento da profecia diante de nossos olhos.
Celebremos o Messias Yeshua, pois Ele é nosso Cordeiro Pascoal, o Cordeiro de Deus (Seh HaElohim) que tira o pecado do mundo (João 1:29), o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (Ap. 13:8) para nos salvar. “Este é o dia que o Senhor fez (o dia de Páscoa em que sacrificou seu próprio Filho por nós); exultemos e alegremo-nos nele” Salmos 118:24. “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” 1 Coríntios 5:7.
Leituras sugeridas: Deuteronômio 15:19-16:17; Isaías 10:32-12:6.
Leitura adicional sugerida: Lucas 21:5-38.
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